Vazio

Existe uma parte de mim que tenta compensar os estragos das "ausências"; e quando digo ausências não falo somente de pessoas, mas de momentos, coisas e sentimentos. Abstratos. Intocáveis. Eu defino como ausências por não saber exatamente o que ou quem são, sei somente que faz falta.  Essa minha parte pode ser nomeada basicamente de estressada, ansiosa e possui níveis de sanidade mental totalmente alterado. É controladora, tem um senso de justiça apurado e explode frente às desigualdades e impunidades do mundo. Essa parte se diz forte, mas não é. É impulsiva, agressiva... Ela é sangue.
Já a outra metade tenta o diálogo. Consegue lidar com desafios e experimenta da tolerância e complacência. Teoricamente ela tenta compensar a outra parte que é totalmente descompensada. Aí vão horas com autoterapias musicais, e outras válvulas de escape que surgem no meio do caminho. Ferramentas úteis na hora de tentar não enlouquecer. É conflitante tentar entendê-las. É angustiante viver entre essas duas pessoas que no final das contas sempre serão eu. É difícil dominá-las, digeri-las e transformá-las em algo menos "agressivo" para o lado externo. É difícil ter uma linha de personalidade tão definida e tentar
confrontá-la e maquiar certos sentimentos. Como lidar?
E cá estou eu me afundando cada vez mais em cavernas dentro de mim, acreditando que a melhor solução para todas as "outras coisas" é guardar em algum buraco dentro do coração e lançar ao esquecimento os problemas que considero insolucionáveis. Dizem: "Deixa, o tempo cura tudo". Pf! Conversa fiada. O tempo não cura nada. Não adianta esperar pelo tempo, porque ele não resolve nossos problemas como todos dizem. O tempo não aplaca saudades, não repara mal entendidos. O tempo não pede perdão por você, o tempo não arranca a mágoa do peito. O tempo só mascara... O tempo ameniza em doses homeopáticas aquela dor que antes era tão insuportável, mas isso não é cura, é costume. A gente passa a conviver com esses conflitos, com essas dores, com esses sentimentos trancados dentro de nós e uma hora ou outra nosso lado mais insano prevalece. Então, eis aí a grande questão que ainda não obtive resposta, como lidar? Ao final somos apenas isto... Uma água fina que escorre dentro de uma gruta vazia. Somos VAZIOS. E a nossa vida é correr incansavelmente tentando preencher nossas ausências...

Pedaços.

Eis nós aqui outra vez, mesclando nossa liberdade de ação com a indiferença, erguendo nosso orgulho, razão e juízo contra a parte mais frágil de nós. O que há depois disso? Acaso não há uma reação para toda ação? Passam-se então os momentos, os dias e mais dia menos dia, estaremos vazios de novo, procurando o nosso porto seguro nos olhos de quem nos acolhe, sem no entanto, encontra-los. Esse é o ciclo da vida, apesar de dizerem que não há início e nem fim, todo grande laço, toda forte amizade, todo amor inquebrável e juras de lealdade eterna entre amigos, irmãos, amantes... Tudo isso pode um dia se romper. Pode se quebrar.
Quem reconstrói o que você demoliu com suas palavras?
Quem junta os cacos e cola pedacinho por pedacinho quando você vira as costas? Quem arma uma rede entre nossas distâncias e tenta fazer disso no mínimo algo bom? Quem preenche as lacunas do silêncio com uma tentativa ou outra de se reconectar e depositar amor e cuidado onde em algum momento faltou?
Cá estamos nós. Somos uma sociedade entupida de gente egoísta, arrogante e ingrata. Pessoas cheias de razão e de orgulho! Pessoas cheias de coragem quando se trata de lançar doses de indiferença no outro, mas que não possuem a mesma na hora de olhar nos olhos e dizer: “vamos conversar, vamos resolver nossas diferenças, vamos deixar o amor reinar sobre essa pequena farpa no dedo”.Acho que não dá pra falar muito sobre uma situação quando você não está vendo “do lado de fora”, é triste... É doloroso... Mas tudo que nasce, um dia morre.