Sobre o amor

Naquelas lembranças de ano novo já tão velho
Ainda vejo o seu jeans rasgado e seu boné virado pra trás
Lembro do seu sorriso em câmera lenta bem diante dos meus olhos
E sinto saudades daquele dia em que nos conhecemos
Era um verão comum, você reparou no meu manequim 44
E na cor do meu cabelo vermelho que brilhava ao sol das três da tarde
Mal poderíamos saber que éramos feitos um pro outro
Foi por um instante de distração que nos perdemos
Durante um longo tempo tateando em absoluta escuridão
Tentando nos encontrar em outros lugares, em outros abraços e sorrisos
Nada parecia familiar em ninguém, nem mesmo o som da voz
Em nenhum olhar havia abrigo para o nosso sorriso repousar
Até nos reencontrarmos em meio toda aquela confusão
Ali... Bem diante de mim estava você com seu velho jeans rasgado
Som de metal bem ao fundo e até o solo mais pesado parecia melodia romântica
Não sabíamos muito bem do que chamar o que estávamos sentindo agora
Então, apelidamos de "um carinho muito grande", que se tornou paixão
E a cada dia se torna amor... E mais alguma coisa que não sei descrever.
Só sei que meu conforto é estar dentro do seu abraço ouvindo sua respiração
Minha paz é saber que encontrei o amor e ele me encontrou.

~


Caminho. Julgamento. Transição. Imposições. Culpas. Mudanças. Conceitos. Fragilidades. Gostos. Emoções. Opiniões. Visão. Sonhos. Perspectiva. Dores. Alegrias. Esperança. Crença. Cicatrizes. Tradições. Personalidade. E no meio de tudo isso que nos torna tão humanos, estão nossas ações ora construindo pontes até o outro, ora cavando abismos ainda mais profundos.

Escolhas.

A glória dos 23

Não sei ao certo quando as primeiras rugas começam a surgir, é uma mudança lenta e geralmente só consigo reparar olhando um retrato. Ter meus 23 anos tem a sua glória, deixo meu casulo para trás e preparo-me para voar.
Há tanto conforto na jaula que sempre me aprisionou, que nunca senti uma falta real da liberdade, mas cá estou eu, rompendo minhas prisões, aniquilando os meus monstros, tentando me superar antes de tentar mostrar pra qualquer pessoa o que posso ser. Porque é isso que realmente importa, provar para mim mesma que eu posso ser o que desejar.
O tempo de espera acabou, eu quero voar porque as minhas asas quase engessaram esperando por este momento. Deixo para trás muitas coisas enquanto corro para beira deste precipício, e vou vasculhando cada compartimento de mim e me desprendendo com a força do ar. Isto está me rompendo, me arrebentando, porque mudar dói de verdade. Mas agora abro minhas asas, desfruto deste ar gelado e puro que me invade...
Agora sei como é voar!

Das coisas passageiras

Cada segundo que passou escorregou por entre os dedos junto as oportunidades desperdiçadas e com as escolhas que deixamos de fazer. Por algum motivo curioso sempre precisamos eleger coisas na vida, sempre estamos em dúvida e saber o que se quer parece não ser o bastante... Sempre iremos querer mais. E a vida não se sacia de nos importunar com as escolhas. O que vai fazer com elas? Pressionados contra a parede com o abdome contraído vamos perdendo nosso fôlego. É o bem ou o mal, falar ou se calar, fazer ou deixar de fazer, comer ou se abster, parar ou continuar, correr ou deitar, desistir ou lutar. Céu ou inferno. E desta última tenho algo a dizer...
Engraçado que muitos de nós dizemos querer ir para o céu, que é o nosso ideal de lugar perfeito, mas temos o "incrível dom" de fazer da nossa vida e da vida dos outros um verdadeiro inferno. Oo Não há nada de divino nisso, e se há paraíso para as boas pessoas como diz a bíblia, com certeza ele não incluirá os hipócritas. Veja, agir pelo bem vai muito além do ato de portar um bíblia, deixar de fazer algo que considera "abominável", viver em uma busca incessante por aprovação dos outros, o mundo está saturado de religiosos e acredite você ou não, isso também irá passar... Todos iremos. Agir pelo bem é propagar a paz, é tentar pacificar e reatar laços partidos, é buscar o amor na mínimas ações e valorizar isso, é reconhecer quem está sempre com você e por você, é demonstrar gratidão quando "a ocasião" não pede, é ser piegas MESMO e dizer "eu te amo" fora de hora. É olhar para o próximo com compaixão, é olhar pros problemas e imaginar que ainda há muito mais para se agradecer do que para se queixar. E sinceramente não acho que isso tenha a ver com religião, mas com um coração que aprendeu a ser feliz se descobrindo na felicidade alheia. Coisas passageiras que posso me lembrar no momento são todas aquelas coisas que perdem a beleza frente à correria absurda do ser humano. Não consigo mencionar apenas uma coisa, nada é dispensável, tudo se perde. Precisamos de um pouco mais de calma, diminuir o ritmo... Viver com mais emoção cada segundo desses que se passaram, por exemplo, enquanto líamos este texto.

Sobre ser

Levei anos construindo muros ao meu redor e de repente derrubá-los, é difícil. Passei tanto tempo tentando entender as pessoas que esqueci de procurar entender a mim, perdi parte da minha vida deixando de fazer o que gosto pensando: "mas beltrano vai me achar idiota", nunca me dei conta de que o preconceito sempre foi meu e não das pessoas e todos esses "achismos" não passavam de medos de ser quem sou. Eu me esqueci de como era bom ser criança e não me importar com os julgamentos alheios, me esqueci o quanto é bom deitar no chão e ficar desenhando coisas nas nuvens, pular dentro das poças de chuva, pular por cima das ondas quebrando a beira mar, rolar na areia... esqueci de ser menos séria, menos "gente grande". Acreditei que me mantendo mais calada e sisuda, as pessoas me levariam a sério, dariam atenção pro que eu digo, achei que eu poderia parecer - como é que se diz mesmo? - hm... ah, sim! Adulta. Que palavra infeliz. Tudo o que sempre quis era crescer pra poder dizer: "agora mando no meu nariz", e agora bateu aquela síndrome de Peter Pan... Gostaria de ter sido criança pra sempre...