RELÓGIO

A vida passa ligeiramente em zilhões de minutos não valorizados. Um dia você acorda e percebe que já se foram dez anos e estes te deram de presente não apenas menos tempo, como maravilhosas rugas (rs). Acho que essa é a síntese da vida de várias pessoas (incluindo eu), tempo perdido.
Tempo perdido é exatamente o que acontece quando sento aqui para escrever sobre o próprio tempo. Texto este que fará outras pessoas perderem o tempo delas lendo sobre a perda de tempo. É mais ou menos o que acontece quando o ônibus percorre metro a metro à 20 km/h as avenidas engarrafadas desta cidade quente, enquanto um compromisso te espera do outro lado. É o acontece também, quando você engole o almoço para ganhar alguns minutos e nem se dá conta do cheiro, sabor ou sensação de estar comendo algo tão bem preparado. Você só sente uma massa escorregando pela garganta e torce pra que "aquilo" sossegue teu estômago durante várias horas.
Não deveríamos apenas deixar as coisas acontecerem? Mas perdemos o prazer nas pequenas coisas quando deixamos de valorizá-las. Sempre estamos querendo antecipar tudo, ou como diriam nossas avós "colocar o carro na frente dos bois", "meter os pés pelas mãos", enfim... Deveríamos estar simplesmente satisfeitos quando temos tempo "de sobra", porque férias significa quase isso: ter tempo pra coisas muitas das vezes inúteis, como por exemplo, pensar em como é que se fabricam as paçocas... Emoticon colonthree ? Mas não, nossa preocupação com os minutos que precisamos economizar não nos permitem viver estes minutos inúteis da forma que se deve, plenamente eu diria. Então, chegará um dia em que olharemos o espelho e veremos que além dos dez anos, se passaram mais quarenta de uma vida vivida mediocremente (espero que essa palavra exista). E é por aí... O ciclo continua... Até a gente não conseguir mais enxergar direito, ou caminhar de forma segura, todos os nossos anos não estarão mais em nossas rugas mas por todo o nosso corpo... Uma carcaça velha e frágil, muita das vezes incapaz de caminhar sozinha. Então seremos crianças novamente, precisando do auxílio de outros pra executar tarefas simples do dia a dia, como por exemplo, sentar aqui... E escrever.

Sobre minhas infinitas desculpas...

É certo que todos têm problemas na vida e discutir sobre eles com alguém pode resultar numa eterna disputa de "quem carrega a cruz mais pesada". O fato é que: só sabe o peso das aflições quem as sente e qualquer processo em que a pessoa tente transmitir o que se sente a outra, é em vão. Impossível penetrar na mente de alguém e ver a vida com os olhos de outra pessoa, sobre outro prisma e perspectivas, experiências, sentimentos... que não são seus.
O que dizer quando você não tem mais o que dizer? Quando as desculpas acabam e seus amigos não perdem apenas a paciência com você, mas totalmente o interesse em querer saber o acontece com sua mente e porque você age como um completo idiota.
Isso tem acontecido há anos, e é certo que ainda vai acontecer muitas e muitas vezes. As únicas amizades que resistiram ao tempo, foram aqueles que me deram a chance de tentar ser eu - desse meu jeito estranho. Mas isso me incomoda às vezes, e tem me incomodado mais ainda por afetar várias pessoas próximas... Esse meu jeito frio e esquisito com que me afasto, sem motivos algum ou explicações palpáveis. Eu nem sei ao certo porque ajo assim... Eu só... Ajo assim. Então as pessoas te procuram, porque óbvio, a consideração, o respeito e o afeto é mútuo, mas você não consegue mais se manter próximo. Você literalmente SOME. Como se apagasse do mapa seus registros diários de conversas, mensagens e aquelas ligações no meio da semana. Ocasionalmente, por te considerar alguém importante, seus amigos irão te cobrar mais presença e reclamar que sentem a sua falta e você parece não dar a mínima... Mas isso é o que eles conseguem enxergar, e estão bem certos do que dizem, mas você sabe que nem tudo é simples assim.
Você tenta se explicar, como se isso fosse mudar alguma coisa... Eventualmente vão ignorar a raiva que estão sentindo de você e te dar segundas chances, até o ponto que se cansam de esperar por alguma ação da sua parte. E você está lá... jogado em algum canto pensando o quanto você é imbecil e incapaz de manter uma amizade que provavelmente você jamais vai encontrar igual toda a sua vida.
Então você pára pra refletir e descobre que seu problema não meramente superficial e simples de resolver, que a última consulta com a psicóloga agora faz todo o sentido e que você precisa de algo mais do que só desculpas.
Mesmo que seja estranho estar nesta situação de "reversão", é extremamente necessário que isso aconteça. Caso contrário, você terá novamente 10 anos de idade, estará brigando com os mesmos "monstros" da pré-adolescência, tentando entender como raios a depressão te alcançou novamente. É difícil ser lógico quando só o que você pensa é: "tenho que fazer isso, aquilo e aquilo"... Mas no fim, você acaba sentado/deitado/jogado em algum lugar dizendo pra si mesmo: "Amanhã eu faço"... E nada acontece.

E as pessoas se esquecem...
Você deixa pra lá...
E tudo volta a ser como sempre foi:
Você - sozinho.