VOO DISTANTE

Em um dia 29 de fevereiro meus pés pisaram pela primeira vez nestas terras nordestinas; para mim, que havia ido no máximo até o sudeste, conhecer o outro lado do Brasil foi uma experiência muito interessante. O que mais me afligia não era a distância do voo, mas o fato de não saber quando eu voltaria. Sentia tristeza e um receio enorme rodeando minha mente, mas encarei de frente, tentei levar da melhor forma possível aquela ruptura com minha terra natal e, mesmo contrariada (indignada, revoltada), aproveitei a mudança de cidade, para mudar também. E agora, praticamente dez anos depois, pouco me lembro daquele menina de 14 anos introvertida, "do metal" -haha, e viciada em tocar teclado e jogar. E sinto saudades daquele tempo em que minha maior preocupação era tirar notas azuis em matemática e que minha tristeza era não poder jogar basquete todos os dias. E talvez isso seja a vida, não viver tentando manter os mesmos conceitos e ideias, mas mudar sempre... Ser "uma metamorfose ambulante". Não ter medo de pensar diferente, ter opiniões novas, aprender com os outros... Amadurecer mesmo quando pensamos que já estamos maduros. Foi um voo distante até aqui, durou muito mais do que seis horas, duraram anos tentando me adaptar, entender, dialogar, me inteirar da cultura, me sentir parte daqui. E criei raízes, esperanças, expectativas... E enquanto todos aqui almejam o mesmo processo de mudança que fiz aos 14 anos, eu só queria, depois de tanto tempo me sentindo uma intrusa... Ficar quietinha no meu canto. Deve ser por isso que boa parte das pessoas têm viajado pra Curitiba e me perguntam: "Por que você não volta pra sua terra?" e eu penso: - Eu não sei mais o que é minha terra, não tenho nada que possa chamar de meu. A única coisa que sei é que, se algum dia eu tiver que sair daqui... Não será como da última vez, contrariada, triste e cheia de medos... Se eu tiver que partir será por decisão minha e não de terceiros.

Não vou sentir aquilo de novo.

De um louco apaixonado, para sua Maria.

Teu nome, Maria.
Teu nome é desavesso, mas quando cala, é complicada. Tudo fica indigesto, vira prego solto embaixo dos meus pés, e eu me atormento com sua fúria vinda bem de dentro desses seus olhos negros, então, fujo para o convés. Respiro bem baixo, rezando pra você não me encontrar...
Teu nome é agonia, em meios os tristes dramas que me impõe, com essas suas artimanhas em palavras, és minha única calmaria. Torna-se uma doce dama e eu perco o meu sossego, me enfraqueço com a tua voz... Se não fosse minha cura, me mataria.
Traga-me tuas ondas quebrando cheias de espumas, você tem cheiro de barco à deriva, és um perigo anunciado... E eu, eu sou um louco... Apaixonado.