Sobre não ser

Você já se sentiu um produto? Pois é,  então não deve imaginar como é se sentir uma embalagem descartável. Daquelas que - digamos assim, a grosso modo - são bonitinhas, porém, inúteis. Destino? Lixo, você deve ter pensado. Acertei? Não. Não é o lixo, é vala, chão,  rua, esgoto, alguma viela abandonada ou quem sabe um rio poluído. Se, e somente se, por alguma benesse do destino fosse para o "lar" de todas as "embalagens descartáveis", restaria quem sabe um pouco de dignidade. Um fio de misericórdia poderia me resgatar da inutilidade em forma de catador que recicla. Sendo reciclada, ora, reencarnada em forma de produto poderia eu ter alguma chance de protagonizar o sentimento de importância na vida de alguém? É... Eu sei, pretensão demais acaba nos frustando. Mas pretender o que de uma vida cheia de migalhas? Tirar a gase e deixar a poeira entrar, bactérias e sujeiras. Deixa inflamar mais. Sentimento podre de autocomiseração. Eu te odeio! Quer saber? Deixa apodrecer, necrozar, perder para então se importar. Não importa mais por quantas vezes fui parar jogada por aí... Uma embalagem bonita que não é útil à ninguém, talvez seja aos pobres filhos imundos da amargura. Crianças feridas amargamente pelo karma de uma vida sem alegrias e que, ao se deparar com uma embalagem qualquer com dizeres sem significado mas de cores bonitas... Torna-se um brinquedo, um presente, ganha a admiração dos mais requintados quadros e o carinho do mais nobre amor: aquele que te enxerga além da sua utilidade, te ama além das caricaturas... Te vê como você é e ainda assim, te dá valor.


Por Wanessa Pimentel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário